quarta-feira, junho 15, 2005
Para os Pequenotes e os Menos Pequenotes
Por mais impessoal que seja a minha poesia, nunca o foi tanto como a que fui escrevendo à medida que o Miguel ia crescendo diante dos meus olhos, e me ia pedindo uma história ou um poema. Provavelmente isto é coisa comum entre miúdos, mas este parecia-me especialmente atraído pelas coisas da imaginação, e foi para o ver sorrir ou lhe dar prazer que inventei estas puerilidades, algumas das quais me atrevo agora a publicar. O mais curioso é que a palavra, com todos os seus sortilégios, parecia fasciná-lo, mesmo quando a não entendia.
O que ele ignorava sabê-mo-lo nós de sobra: a simples matéria sonora - rimas, aliterações, reiterações, estribilhos, consonâncias - é fonte de sedução e razão de encantamento desde que o homem se demorou, pela primeira vez, a escutar o vento entre os ramos.
Ao escrever estes versos, procurei abrir os ouvidos da alma às vozes que encheram os dias já distantes da minha infância. (...)"
Eugénio de Andrade, Setembro de 1986
Aquela Nuvem e Outras
Eugénio de Andrade
A Rosa e o Mar
Eu gostaria ainda de falar
da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
o mar tão impetuoso,
que não sei como os juntar
e convidar para o chá
na casa breve do poema.
O melhor é não falar:
sorrir-lhes só da janela.
Eugénio de Andrade
(in http://www.campo-letras.pt)
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